Desde auditoria e controladoria a compliance, cada cargo exige diferentes habilidades, que devem incluir capacidade de adaptação às tecnologias e regulamentações do mercado
Notícia
Empresas do Brasil reabrem as portas para jovens mais engajados
Programas de trainee e estágio são retomados em vários setores, reflexo do aumento das oportunidades no mercado
01/01/1970 00:00:00
Dezenas de processos para selecionar e treinar profissionais no começo da carreira contribuíram, neste ano, para a redução da taxa de desemprego no Brasil de junho último a agosto, embora o nível de desocupação dos jovens ainda supere, de forma surpreendente, a média nacional de 13,2% segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O ano foi marcado pela retomada dos programas de estágio e trainee, diante da demanda represada que a pandemia de COVID-19 provocou. Ainda há seleções aguardadas nos próximos meses, período que pode ser aproveitado para a preparação dos candidatos visando à temporada de 2022 para estagiários, recém-formados e jovens com experiência.
Guilherme Campos, sócio da consultoria PwC Brasil, afirma que atividades baseadas na rotina e na repetição tendem a passar a ser feitas cada vez mais por robôs e outras ferramentas da automação industrial.
Com isso, funções intelectuais exercidas por profissionais com habilidades como liderança, inteligência emocional, criatividade e capacidade de resolver problemas deverão ser mais valorizadas, e esse é o caminho que os jovens devem perseguir.
“O futuro do mercado de trabalho será resultado de questões complexas, como o impacto de tecnologias disruptivas, a escassez de recursos naturais, mudanças no comportamento dos consumidores e novos modelos de negócios. O mercado de trabalho terá mais espaço para a inovação”, alerta.
Os dados mais recentes do IBGE relativos às taxas de desemprego estimadas com base na idade da população se referem ao período de abril a junho passado e mostram níveis de 29,5% de desocupação entre jovens de 18 a 24 anos e de 13,8% na faixa de 25 a 39 anos.
Nesse último grupo, estavam 33,9% do total de pessoas sem trabalho no país, ou seja 4,9 milhões do universo de 14,7 milhões de pessoas sem oportunidade de trabalhar.
Quanto à faixa de 18 a 24 anos, a estimativa de desempregados é de 4,2 milhões. De junho a agosto, o instituto estimou 13,7 milhões de brasileiros sem ocupação.
Com a recuperação da economia, Adriana Prates, CEO da consultoria Dasein Executive Search, afirma que em todos os segmentos da atividade, hoje, há espaço para os jovens. “Em 2021, as empresas estão lançando de forma maciça programas de contratação de estagiários e trainees.
Com o crescimento de muitos segmentos, faltam bons profissionais. Por fim, as empresas abriram novos processos a fim de preparar esses jovens para crescer, seja como assistentes, analistas e consultores, sejam especialistas ou gestores.”
Os jovens que tiveram acesso a uma formação acadêmica consistente serão beneficiados, mas é preciso usar essa bagagem de formação e ampliar as possibilidades de atuação.
“Mais do que um tipo de formação específica, as grandes empresas buscam pessoas com essa base forte, pois é nessa base que os investimentos em treinamento e desenvolvimento serão feitos. E caso essas pessoas tenham atitudes positivas, saudáveis, sejam integradoras e colaborativas, conseguirão com rapidez assimilar diversos novos conhecimentos e aplicá-los de imediato no dia a dia, o que vai gerar valor para a própria pessoa e para a organização.”
Um detalhe que merece atenção especial nesse cenário, de acordo com a CEO da Dasein , é o cuidado desses profissionais com a postura adotada nas redes sociais, o que envolve não só posicionamento virtual sobre os temas mais variados, causas que apoia, como também as fotos inseridas nos perfis. É fator capaz de aumentar ou reduzir as chances de êxito.
“Tudo será cuidadosamente verificado pelas empresas mais sérias”, alerta.
Na luta contra os números preocupantes do desemprego, o publicitário Victor Antunes Campos, de 26 anos, conquistou vaga de designer após cinco meses desempregado.
“Não é o meu primeiro emprego. A primeira oportunidade surgiu em 2018, quando fui efetivado em uma empresa onde fazia estágio. Agora, o mercado não parecia ser oportuno. Enviei vários exemplares de currículo via e-mail, pelo LinkedIn e até mesmo entregando impresso de porta em porta.”
Victor conta que foi selecionado para diversas entrevistas, participou de dinâmicas em processos seletivos e conversou com muita gente até que surgisse a oportunidade de voltar ao mercado de trabalho. Victor Campos conquistou colocação em sua área de atuação, o que tem sido raro no mercado competitivo no país.
“Consegui emprego no setor de marketing e comunicação como designer, função em que já havia atuado por bastante tempo. Estou muito satisfeito e feliz com a oportunidade. Espero fazê-la render bons frutos, mirando onde quero chegar na carreira.”
Entre os obstáculos que o publicitário enfrentou estão a oferta tímida de vagas durante a fase mais restritiva que foi necessária no combate à COVID-19, a exigência por parte de alguns empregadores de profissionais capacitados para multitarefas e a queda dos rendimentos do trabalho.
Fator não menos importante, Victor conta que teve de lidar com a ansiedade na busca de recoloção em condições suficientes para, ao menos, retirá-lo da situação de sufoco. “Ficar em casa, sem ter o que fazer, sem me sentir útil ou produtivo foi algo que tirou a minha confiança em alguns processos de que participei. Sem dúvida foi um dos maiores obstáculos que tive de superar para finalmente conseguir me recolocar.”
Milhões de jovens encaram a mesma batalha pela qual passou Victor Campos. Fator determinante nessa luta, segundo Guilherme Campos, da PwC Brasil, são as recentes transformações tecnológicas que redesenham o ambiente de trabalho. Avanços na automação industrial, aliados à inteligência artificial e outras inovações, vêm substituindo o homem em alguns setores e funções.
“A pandemia ressignificou esse cenário, uma vez que houve uma série de impactos na economia que culminaram em demissões ou em fechamento de empresas”, afirma o consultor.
Segundo a Pesquisa Global sobre Crises da PwC (Global Crisis Survey 2021), no Brasil, 62% dos entrevistados declararam que a crise sanitária impactou de forma negativa os negócios. Outros 33% afirmaram que o efeito foi positivo. Diante disso, soma-se um cenário desafiador no segmento da educação, que teve que se adaptar ao ensino a distância.
Mundo das habilidades digitais e da visão ampla
Estudo da consultoria PwC mostra que os profissionais jovens têm duas vezes mais probabilidade que os demais grupos da população de conseguir melhorar suas habilidades, o que é um ponto importante para a sua inserção no mercado de trabalho.
Guilherme Campos, sócio da empresa, diz que muitas funções surgem e outras estão desaparecendo por completo. A discrepância entre as qualificações que as pessoas têm e aquelas que elas precisam mostrar para trabalhar no mundo digital é uma das questões mais críticas.
“Para solucioná-la, é preciso investir no aprimoramento das competências dos trabalhadores. Isso exigirá a união de esforços em diferentes níveis: educadores, gestores de governos nacionais, regionais e locais, além de líderes empresariais”, afirma Campos.
Ele destaca que com 71 milhões de jovens desempregados no mundo e entre 20% e 40% dos empregos atualmente ocupados por jovens de 16 a 24 anos com risco de automação até meados da década de 2030, o desenvolvimento das habilidades necessárias para a era digital se torna desafiador.
“Apesar de atualmente haver a maior geração de jovens da história brasileira (48 milhões de pessoas entre 10 e 24 anos de idade, cerca de 23% da população), grande parte desse contingente não tem acesso à formação e às oportunidades de emprego”, afirma.
Nesse contexto, ele alerta para o fato de que jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade social dependem ainda mais de apoio para ingressar no mercado de trabalho.
Quanto aos programas de inserção no mercado de trabalho, de estágio, trainee e jovens aprendizes, muitos deles são mais concorridos que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e alguns vestibulares. Adriana Prates, CEO da consultoria Dasein Executive Search, diz que a preparação dos canidatos deve contemplar a realização de bons cursos extracurriculares.
“É necessário acompanhar por meio dos noticiários e revistas específicas o que está ocorrendo no mundo. A leitura qualificada amplia a visão de mundo e o candidato vai dar respostas mais compatíveis com o que a empresa espera. Aumentar o volume de processos seletivos é também essencial para aumentar o percentual de êxito.”
Guilherme Campos afirma que entre as principais habilidades requeridas estão liderança, pensamento analítico, inovação e processamento de informações e dados. “De fato, há vagas para profissionais qualificados, assim como sobram profissionais não qualificados, o que prejudica as pessoas. A economia e a sociedade em geral sofrem com esse desajuste entre demanda e oferta de postos de trabalho. Independentemente do cargo, é necessário que os jovens ampliem a qualificação.”
Empreender como saída
Antes da pandemia de COVID-19 e do agravamento do desemprego no país, os jovens brasileiros já buscavam alternativa para empreender. Dados levantados pela Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) indicam que, desde o início de 2020, os brasileiros de 18 a 29 anos representam 48,1% dos empreendedores independentes que atuam com vendas diretas. Outra diferença, no cenário atual, é o crescimento do número de homens que atuam no setor, universo de 42,2% do total. Houve, ainda, mudança nos meios de divulgação dos produtos. O aplicativo WhatsApp (84,7%) e as mídias sociais (79,8%) tomaram a frente e são os mais utilizados. A geração que cresceu em meio à expansão do acesso à internet viu na familiaridade e no alcance da rede, junto ao baixo investimento para começar o negócio nas vendas diretas, a oportunidade de não ter chefe e de definir a própria jornada de trabalho.
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