Neste mês, a Receita Federal apertou a fiscalização e passou a receber informações sobre transações financeiras de instituições como operadoras de cartão de crédito e bancos digitais, por exemplo.
Notícia
Economia supera expectativas em 2024, mas começa 2025 pressionada pelo mercado financeiro
Indústria cresceu 3,6% em 2024 ante 2023 até setembro, maior alta em 10 anos
01/01/1970 00:00:00
A economia brasileira superou com folga as expectativas para os principais indicadores de atividade durante o ano de 2024: cresceu mais do que o estimado, reduziu o déficit das contas públicas para além do previsto e baixou o desemprego ao menor nível da história. Apesar disso, começa 2025 pressionada e deve ter dificuldades para apresentar um desempenho tão bom quanto o verificado nos 12 meses anteriores.
A alta recente do dólar, que fechou o ano em R$ 6,18, tende a aumentar a inflação. Já o indicativo do Banco Central (BC) de que a taxa básica de juros, a Selic, será elevada tende a frear o crescimento.
Para 2025, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda estima que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,5%. Seria a menor expansão desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou à Presidência da República.
Em 2023, a economia cresceu 3,2%. Durante 2024, em nove meses, o crescimento foi de 3,3%. Economistas de bancos ouvidos semanalmente pelo BC estimam que o PIB feche o ano com alta de 3,5%.
Superando expectativas
Esses mesmos economistas estimavam que a economia nacional crescesse cerca de 1,5% durante 2024 – menos da metade do verificado até aqui. A SPE, do Ministério da Fazenda, tinha uma expectativa um pouco melhor, de 2,2%, mas que também deve ser superada com folga.
Economistas do setor financeiro ainda estimavam que o déficit primário do governo fechasse 2024 chegando ao equivalente a 0,8% do PIB nacional. Isso foi registrado na primeira edição do ano do chamado Boletim Focus, pesquisa semanal do BC sobre as expectativas do mercado. O déficit significa que o governo gasta mais do que arrecada.
Na última edição dessa pesquisa, entretanto, economistas de bancos já estimam um déficit de 0,6% do PIB – ou seja, 25% menor. O governo reforça que o déficit não superará 0,25% do PIB, promessa que está, inclusive, registrada no orçamento de 2024.
Além disso, a taxa de desemprego chegou a 6,1% no trimestre encerrado em novembro, a menor já registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a proporção de pessoas com idade para trabalhar e efetivamente trabalhando chegou a 58,8% do total, superando assim os 58,5% alcançados em 2013, ainda antes da recessão e da pandemia.
Desconfiança e pressão
Apesar disso tudo, nos últimos meses de 2024, a desconfiança do mesmo mercado sobre a economia aumentou. Mesmo com a melhora na avaliação de economistas de bancos sobre as contas públicas, agentes financeiros passaram a exigir juros mais altos para emprestar recursos para o governo. Eles também apostam numa perda de valor da moeda brasileiro no mercado global, uma das causas para a alta do dólar.
O problema é que essa desconfiança do mercado tem efeitos sobre a economia real. Com o dólar em alta, a inflação no Brasil tende a subir. Para tentar contê-la, o BC acaba elevando a Selic, o que atrapalha o crescimento.
“Os mecanismos de pressão do mercado sobre o governo são reais”, disse Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento. “Eles conseguem fazer pressão com especulações no curto prazo, como no caso do câmbio.”
“Infelizmente, a especulação que leva o dólar para o alto vai ter esse efeito nos juros e bater no crescimento”, acrescentou Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Tivemos notícias muito boas em 2024, mas há um alerta para 2025, especialmente por conta dos juros.”
Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC subiu os juros de 11,25% ao ano para 12,25%. Já avisou que, até março, a taxa deve chegar a 14,25% ao ano. "Nessa questão, o mercado saiu vitorioso", avaliou Weiss.
Cantelmo explicou que a elevação dos juros tem como objetivo imediato a desaceleração da economia. Com juros mais altos, há menos pessoas e empresas comprando ou investindo, e os preços tendem a não subir.
“Se pegarmos as atas do Copom, eles dizem que há um crescimento excessivo da economia, que tensiona a capacidade instalada e leva à inflação”, explicou ele. “Mas precisamos de juros baixos para fazer investimento e ampliar essa capacidade.”
Inflação é ponto negativo
Cantelmo reforçou os dados positivos da economia em 2024. Ressaltou, no entanto, que a inflação deve ficar acima da meta para o ano, o que é um dado negativo.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do país, ainda não foi divulgado pelo IBGE. O BC já disse que ela deve ficar acima dos 4,5% neste ano, teto da meta definida para o indicador.
Cantelmo afirmou que a inflação em 2024 esteve relacionada à crise climática. A seca pressionou o preço da energia e dos alimentos no país.
Para ele, além do desafio de contornar a desconfiança do mercado, o governo precisa aprender a lidar com os desafios do clima. Esses, sim, têm consequências mais diretas sobre o dia-a-dia da população, principalmente sobre os preços.
Edição: Martina Medina
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