Desde auditoria e controladoria a compliance, cada cargo exige diferentes habilidades, que devem incluir capacidade de adaptação às tecnologias e regulamentações do mercado
Notícia
A saúde mental também precisa de EPIs?
Os transtornos mentais estão entre as três principais causas de afastamento do trabalho, de acordo com dados da Justiça do Trabalho.
01/01/1970 00:00:00
Os transtornos mentais estão entre as três principais causas de afastamento do trabalho, de acordo com dados da Justiça do Trabalho. Somente no último ano, o Ministério da Previdência Social apontou um aumento de 38% nos afastamentos por problemas mentais. Como, então, transformar este cenário? A partir de sua própria experiência no mercado de trabalho, a jornalista e palestrante Izabella Camargo desenvolveu o 1º Manifesto para a Criação e Implementação de EPIs da Saúde Mental, equipamentos de proteção individual destinados a preservar e promover a saúde mental dos trabalhadores, assim como os EPIs físicos protegem contra riscos ocupacionais durante o exercício de uma determinada atividade.
Izabella, que também é colunista do portal, concedeu entrevista exclusiva e explicou como funciona o manifesto, que alcançou, durante o CBTD 2024, 3.400 assinaturas, que somaram às mais de 100 mil pessoas impactadas com publicações e vídeos em todas as redes sociais da comunicadora, que juntas somam mais de 1,7 milhão de seguidores.
Confira o papo:
RH Pra Você: A Síndrome de Burnout é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema. Foi a partir de sua vivência com esse distúrbio emocional que tudo se transformou. Pensando nisso, que mensagem você deixa para o público a cada palestra realizada?
Izabella: Todos nós passaremos por situações desafiadoras. Quando vivenciei meu burnout, ainda não compreendia o que estava acontecendo. Não tinha ideia de como essa situação me escolheu. Com o diagnóstico, a paciência foi crucial, e eu fui demitida. Até então, eu me sentia uma vítima. No entanto, os sinais já estavam presentes antes, mas eu não acreditava que algo assim pudesse ocorrer. Quando consegui abandonar o papel de vítima e me transformar em uma aprendiz, percebi que precisei passar por tudo aquilo para fazer o que faço hoje.
Quando trabalhava no Grupo Bandeirantes, era a voz da rádio, da TV e de outros canais do grupo. Já na Globo, não fui reconhecida por nada, inclusive no primeiro dia de trabalho criticaram minha voz. Mas foi necessário passar por lá para, hoje, ser a voz de uma causa que necessita de educação.
Ao retornar ao CBTD, este sendo meu terceiro ano, sinto-me muito feliz por abordar esse tema com gestores que levarão essa informação a suas empresas. Como um beija-flor, gota a gota, equilibramos o ecossistema. Nesta edição, trouxe o desenvolvimento do ano passado, abrindo o CBTD com o tema da produtividade sustentável.
Este ano, retorno com os EPIs da saúde mental, resultando na continuidade do movimento pela produtividade sustentável. A casa estava cheia. Muitos abraços, muitas emoções, e fico contente por conectar-me com pessoas que entendem minha especialidade como comunicadora, unindo minha vivência, pesquisas e especializações em comunicação. Assim, posso afirmar que estamos adoecendo, e nossas equipes também, não por falta de informação, mas por falta de comunicação. Uma comunicação coerente, equilibrada e moderada, capaz de atender às necessidades das pessoas para prevenir problemas de saúde.
RPV: Como você acredita que é possível desenvolver uma relação saudável com o trabalho?
Izabella: É possível desenvolver uma relação saudável com o trabalho ao cessar a busca pelo reconhecimento dos pais e mães no ambiente corporativo, ao deixar de procurar no trabalho os prazeres que devem ser encontrados na vida, fora do ambiente profissional.
Durante minha experiência, minha vida era o trabalho, e por isso, quando me distanciava dele, sentia que perdia parte dela, pois não tinha relacionamentos, nem experiências fora do ambiente de trabalho. Tudo que fazia estava ligado ao trabalho: academia, cursos, terapia, tudo para trabalhar melhor, e não para viver melhor. Portanto, é possível desenvolver uma relação saudável com o trabalho ao assumir uma postura de autorresponsabilidade.
Reconhecendo a necessidade de estabelecer e defender limites, você pode dizer não a situações abusivas e a ambientes hostis, com elegância e delicadeza, garantindo o respeito das pessoas. Se você faz tudo que é pedido, pode ser que gostem de você, mas isso não significa que vão respeitá-lo.
Como as empresas devem atuar em busca de mais bem-estar para os colaboradores?
Izabella: Atualmente, há uma necessidade urgente de atualização de identidade, tanto individual quanto social, pois os negócios, o mercado e o contexto estão em constante mudança. Muitas empresas ainda estão presas a modelos ultrapassados, o que perpetua problemas ao longo do tempo. Portanto, é fundamental a reorganização do mundo do trabalho. O design organizacional, que abrange diversas estruturas organizacionais, é essencial para evitar a perda de talentos e de recursos financeiros. Devemos abandonar ideias antigas que já não são mais eficazes.
As empresas podem promover o bem-estar dos colaboradores ao estabelecer um entendimento comum sobre saúde mental e produtividade sustentável. Não adianta apenas bater metas e pressionar as pessoas, porque após uma meta, haverá outra, e não haverá mais pessoas. É necessário reorganizar o mundo do trabalho, esta é a necessidade atual. Aprendemos a ter responsabilidade; agora, é hora de desenvolver a autorresponsabilidade. Estamos falando de direitos e deveres para todos.
RPV: Por que desenvolver os EPIs da Saúde Mental?
Izabella: Quanto aos EPIs, ao longo de quatro anos, visitei praticamente todas as grandes empresas do Brasil, em todas as áreas, sem exceção, e a recepção sempre foi a mesma: falar sobre saúde mental é um tabu, é preconceito, etc. Isso não é mais aceitável, considerando os dados disponíveis. Portanto, cansei de ver esses dados sem ações efetivas.
O problema de saúde mental não é algo com que apenas alguns poucos lidam; estamos enfrentando uma pandemia de problemas relacionados à saúde mental, e agora estamos nomeando muitas dessas doenças.
Tive um insight: EPIs da saúde mental. Se temos EPIs para a saúde física, por que não EPIs para a saúde mental? Comecei a estudar esse tema desde os anos 30, quando o Ministério do Trabalho foi estabelecido. Demoramos cerca de 40 anos para legalizar EPIs para riscos físicos; no entanto, não podemos esperar mais 40 anos para os EPIs de saúde mental serem regulamentados. Não é necessário estar em um ambiente barulhento ou sujeito a deslizamentos para adoecer; posso estar sentado na frente de um computador, sem ameaças visíveis, e ainda assim sofrer algo.
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